quinta-feira, 29 de março de 2012

Visitando a prisão.


Ontem fui visitar uma prisão com uma das turmas de "estudos sociais". Eu fui convidada para ir por ser intercambista.
Depois de 1:40 min de viagem, no típico ônibus escolar amarelo, com frio e sem conseguir dormir direito pelo fato da professora ficar falando a viagem inteira, chegamos na prisão de nível de segurança médio.

As exigências para entrar no local:
- Sem joias ou bijuteria
- Sem usar shorts ou vestido
- Sem entrar com metais (passamos pelo detector de metais)
- Sem câmeras ou celulares

O lugar era grande e bem organizado (como se esperava), tem em média 1000 prisioneiros. As grades eram altas, no topo tinha cerca elétrica e pontas de aço. Dois carros ficam patrulhando o lado de fora, sem contar com as torres de seguranças. É praticamente impossível de pensar em uma forma de escapar.
Chegando lá fomos apresentados a um senhor de 60 anos, que trabalha lá.  Apresentando um power point, nos falou sobre drogas, álcool e estatísticas.
Aprendi que Wisconsin é o lugar que mais prende pessoas nos Estados Unidos que acontece um crime a cada 3min, estupro a cada 7 horas e assassinato a cada 2 dias e 12 horas. Uhul. As estatísticas eram realmente assustadoras.
Tirando o fato de que os piores Serial Killers dos Estados Unidos, ou até do mundo, são de Wisconsin. Me sinto muito mais segura depois dessa, gente.
Eu estava sentada na primeira fila. De frente para a turma sentaram-se 6 prisioneiros. Eles não nos olhavam nos olhos. Eu sentia que eles não podiam. Antes de que eles entrassem no quarto recebemos algumas instruções:
-Não tocar-los
-Não passar nosso endereço ou telefone
-Não dizer nosso sobrenome

No inicio eu me senti meio intimidada, por saber que cada um deles tinha um motivo para estar ali. Se você olhasse para eles, não diria que cometeram um crime, sério.
O estereotipo de um prisioneiro que eu tinha na minha cabeça , na verdade aparecia em só um deles. Ignorância minha.

O primeiro deles começou a falar. Ele tem 41 anos, usa óculos e tem um rosto um tanto familiar. Eu poderia ver ele como o pai de uma das minhas amigas.
Ele contou sobre como era viciado em drogas desde os 14 anos e depois de muitas mentiras, finalmente aos 16 anos os pais dele colocaram ele na Rehab. Como ele mesmo disse, ele viu a rehab como castigo e não como uma forma de mudar. Acabou saindo da rehab e brigando com seus pais para continuar indo em festas. Um dia a briga foi tão feia que ele pegou a arma do pai e atirou nos pais.
Quando ele falou: Eu matei as duas pessoas que mais me amavam no mundo.
Eu não me aguentei e comecei a chorar. Ele continuou: Eu entrei aqui com 17 anos e depois de todo esse tempo eu percebo que eles só queriam o meu bem, mas eu sei que minhas lágrimas não vão traze-los de volta.
Eu continuava aos prantos.

Um outro prisioneiro contou que aos 16 anos atirou nas costas do líder de uma gangue por drogas. Agora ele tem 35 anos, entrou na prisão analfabeto mas conseguiu se formar ali mesmo. Ele foi outro que citou o quanto decepcionou a sua mãe e como se arrepende. Eu comecei a chorar novamente.
Cada vez que eles citavam algo de família as lágrimas escorriam, não era minha culpa. hahah.

Um outro, que tinha cara de dentista, me deu muita pena. Ele tinha parado de beber faz 5 anos, tinha trabalho, casa própria e como ele disse, tinha encontrado a mulher da vida dele. Depois de voltar de uma viagem de trabalho ele descobriu que a mulher dele o estava traindo. Ele saiu para beber e depois foi dirigir. Acabou se metendo em um acidente e matou um homem;
Ele disse que na Terça fez 1500 dias que o acidente aconteceu. Mas que ele não passa um dia sem pensar sobre. Que ele queria estar no lugar desse homem que ele nem conhecia se fosse possível, porque ele não merecia ter morrido.

Com um sorriso enorme no rosto, um outro prisioneiro vai e pergunta: Quem aqui acha que é parecido com a gente?
Duas pessoas da turma de 24 alunos levanta a mão.
Ele fala: eu gosto de carros, joguei futebol, basquete, wrestling, beisebol e fiz forensics na escola. Toco guitarra, gosto de me vestir bem, não só roupas verdes, fui para a faculdade e tenho uma família que eu amo muito. Agora quem se acha parecido comigo?
A maioria da turma levantou a mão, inclusive eu.
O motivo dele estar na prisão foi porque ele ajudou a um amigo a escapar da cena do crime. O fato que ele não nos contou (mas que a minha professora sim), é que ele estava sendo ameaçado por traficantes. Os traficantes disseram que se ele não ajudasse o amigo dele a escapar naquela noite, eles iam matar a família e a namorada dele. Essa péssima amizade dele custou 37 anos na prisão.


Continua..
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Beijos